DE SÃO PAULOUm dos mais abrangentes estudos já feitos sobre o uso da terra no Brasil indicou um descolamento, sobretudo na Amazônia, entre a alta do desmatamento e o crescimento da produção agropecuária.
"Ao analisarmos as duas últimas décadas está claro. Em 1995, a expansão na agricultura coincidiu com uma alta significativa no desmatamento. Em 2004 e 2005, com o pico da pecuária bovina, ocorreu a mesma coisa. A partir daí, no entanto, observamos que tem havido uma separação maior nesses eventos", diz David Lapola, professor da Unesp em Rio Claro e autor principal do estudo.
Embora essa mudança já tenha sido bastante positiva, a relação dos produtores com o meio ambiente ainda está longe de ser a ideal, diz o estudo, que analisou mais de uma centena de trabalhos e foi capa da revista "Nature Climate Change".
"Não foi só boa vontade do setor produtivo. Houve uma intensificação da fiscalização, que foi acompanhada de outras ações na Amazônia", explica Lapola.
Nos outros biomas, que não recebem a mesma atenção dispensada à fiscalização da Amazônia, foi em boa medida o próprio setor produtivo o responsável pela mudança. "Mercados do exterior, especialmente a Europa, também estão mais exigentes quanto à origem", afirma o cientista.
Mais produtiva, a agropecuária no Brasil também está cada vez mais excludente.
Questão antiga no país, a concentração de terra para a monocultura para a exportação está cada vez mais intensa, empurrando mais e mais pessoas para áreas urbanas já saturadas, intensificando problemas sociais.
As grandes propriedades, com mais de mil hectares são somente 1% das fazendas brasileiras, mas representam cerca de 50% das terras agrícolas do país.
Além de apontar problemas, o trabalho sugere soluções, como intensificação das práticas de manejo, criação de políticas públicas e também o pagamento por serviços florestais.
site Folha de S. Paulo