Revista Latino-Americana de Enfermagem
versão impressa ISSN 0104-1169
Rev. Latino-Am. Enfermagem v.1 n.2 Ribeirão Preto jul. 1993
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11691993000200008
ARTIGO ORIGINAL
Consciência ecológica e os resíduos de serviços de saúde1
Ecological awereness and health service wastes
Conciencia ecológica y los residuales de los servicios de salud
Angela Maria Magosso Takayanagui
Assistente junto ao Departamento de Enfermagem Materno-lnfantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP - Campus Universitário
RESUMO
O saneamento do meio envolve uma série de fatores, dentre eles, a questão dos resíduos sólidos, nem sempre bem gerenciados. O problema é mais grave quando se trata de resíduos produzidos em serviços de saúde, sendo a conscientização das pessoas e a atenção dos administradores, de fundamental importância para uma convivência equilibrada com o meio físico.
Descritores: meio ambiente, saneamento, consciência ecológica
ABSTRACT
Environmental clean-up involves a series of factors, among them the question of solid wastes, which are not always properly managed. The problem is more serious with respect medical waste. The awareness of people and the attention of administrators are of fundamental importance for an equilibrated coexistence with the physical environment.
Descriptors: environment, clean-up, ecological awareness
RESUMEN
El saneamiento del ambiente comprende una serie de factores, dentre ellos, la cuestión del residual solido, ni siempre bien administrado. El problema es más grave cuando se trata del residual producido en los Servicios de Salud, siendo la concientización de las personas y la atención de los administradores, de fundamental importancia para una convivencia equilibrada con el ambiente.
Descriptores: ambiente, saneamiento, conciencia ecológica
Quando se fala em saneamento ambiental, deve-se atentar para a complexidade de questões que atravessam este problema, principalmente no que se refere à necessidade de mudança de comportamento.
O ser humano recebe forte influência do meio em que vive, ao mesmo tempo que o influencia em inúmeras situações, como na que concerne ao nível de higiene e de limpeza pública. Este, por sua vez, encontra-se diretamente relacionado com as condições de desenvolvimento e de qualidade de vida da população, quase sempre direcionada pela sua condição sócio-econômica e cultural.
Cada indivíduo, então, organiza sua própria maneira de viver, subordinada a cultura, à educação, ao poder econômico e ao meio ao qual pertence.
Deste modo, podemos dizer que o controle da situação de saneamento de uma comunidade não é exclusivo do pessoal técnico que assume a limpeza pública e, sim, que depende de toda uma visão e postura pessoal, estreitamente ligadas a condição sócio-econômica, cultural e educacional da população.
Segundo PLASCAK (1982), "por maior que seja a influência dos serviços, nenhuma cidade terá um estado geral de limpeza satisfatório se a população não usar corretamente os recursos colocados a sua disposição".
Mas, para que isto ocorra de maneira espontânea, é necessário que exista uma consciência sanitária da coletividade, de forma que cada elemento sinta-se envolvido, de fato, assumindo atitudes condizentes com uma consciência ecológica, visando tanto a própria saúde quanto a saúde do meio em que vive.
Senão, vejamos a trajetória de um simples papel de embalagem de bala, que é jogado no chão de uma rua ou estrada. Se tudo correr como o previsto, este papel vai caminhar pelas galerias pluviais, até alcançar um curso d'água, que chegará até um rio, passando a provocar uma alta demanda bioquímica de oxigênio (DBO), com a proliferação das bactérias que, por questão de sobrevivência, estarão aí presentes na tentativa de "desintegrar" aquele inocente papel. Só que, imaginem milhões de pessoas tendo a mesma atitude de jogar "inocentes" papéis no chão.
Em se tratando da área de saúde, também os resíduos nela produzidos representam um risco em potencial, e neste caso, trazendo grandes danos tanto a saúde do usuário, quanto do trabalhador que nela atua, bem como ao próprio meio ambiente.
Os principais organismos nacionais e internacionais de saúde têm se preocupado com a questão dos resíduos de serviços de saúde, desde a sua separação até o destino final, porém, fazer valer uma recomendação técnica ou uma legislação depende também do conhecimento, da motivação e da conscientização das pessoas diretamente envolvidas.
Quanto ao conhecimento do problema, o que se recomenda é que tanto o aparelho empregador, quanto aos órgãos governamentais responsáveis pela manutenção da higiene e limpeza pública, forneçam condições ao trabalhador de serviços de saúde de "treinamento e vigilância médico-sanitárias" (SUDS-SP-1989), bem como, de reciclagens periódicas e de supervisão em serviço.
Já em relação a motivação e à conscientização, o que se percebe é que obedecendo ou não ao determinismo genético, subsiste a iniciativa do homem de assumir diferentes tipos de comportamento e de definir seus próprios objetivos de vida.
Assim, pode-se encontrar um indivíduo ou mesmo um grupo de pessoas que, mesmo conhecendo a problemática de determinada situação, ou, ainda, sendo eloqüentes em seus discursos diários, não adotem uma postura coerente com suas falas. Dizem, mas não agem. E preciso então, além da conscientização, que exista vontade política daqueles que estando na direção dos serviços, façam valer as normas e recomendações sanitárias, ajudando os que já estão conscientizados quanto a importância da adoção desse comportamento e propiciando a compreensão dos que ainda as desconhecem.
Devermos ter a dignidade e a honestidade de denunciarmos as situações evidentemente criminosas, bem como ir em busca de informações e de ajuda quando assim o julgarmos.
Esta situação pode facilmente acontecer com os resíduos de serviços de saúde, no que se refere a questão da participação tanto do usuário, quanto do trabalhador (do mais humilde serviçal ao chefe máximo), na manutenção de um nível adequado de saneamento do meio.
É preciso que as pessoas passem a refletir sobre o problema, pois se cada indivíduo cuidasse adequadamente dos próprios resíduos que produz, ele já estaria contribuindo para, se não diminuir, amenizar a situação que caminha para um descalabro.
Antes de pensar em mudar o comportamento no serviço, o trabalhador da área de saúde, assim como qualquer cidadão, deveria, a princípio, refletir sobre a importância da adoção de atitude condizente com uma conscientização ecológica, isto é: iniciar pelo próprio lar, cuidando do lixo que produz, segundo as recomendações existentes, o que estaria ajudando o Estado, além da própria Instituição, no gerenciamento dos resíduos produzidos pela coletividade, bem como ao meio ambiente.
Em outras palavras, ter consciência ecológica está diretamente ligado à uma postura de preservação e de cuidados para com o meio em que se vive, lembrando, ainda, que este meio não se reduz ao micro sistema em que está inserido um indivíduo, ou seja: seu local de trabalho, seu quarto, sua residência, mas sim, que engloba todos os macro sistemas do Universo, estabelecendo com eles um processo constante de adaptação.
Ter consciência ecológica não significa simples mente mudar o comportamento diante das situações ambientais no trabalho, no lar ou na rua, e sim, antes, mudar o nosso modo de pensar e de sentir essas situações, de forma a conviver em equilíbrio com o meio físico.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
01. PLASCAK, G. M. de S. Campanhas educativas. São Paulo: CETESB, 1982. (curso básico para gerenciamento de resíduos sólidos). São Paulo, jun., 1982. [ Links ]
02. SÃO PAULO. Sistema unificado e descentralizado de saúde (SUDS-SP). Centro de Vigilância Sanitária. Subsídios para organização de sistemas de resíduos em serviços de saúde. São Paulo: SUDS, 1989. [ Links ]
1 Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT - entende-se por resíduos de serviços de saúde, todo tipo de lixo produzido em instituições sanitárias (hospitais, ambulatórios, consultórios médicos e odontológicos, clínicas veterinárias, laboratórios e similares)
do site Scielo
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